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lunes, 2 de mayo de 2022

Homenaje a Sophia de Mello Breyner en la revista Ágora n.11. Primera parte: Antología de textos seleccionados y comentados por Paco Carreño

                                                                                                               Sophia de Mello
 

LA REVISTA ÁGORA-PAPELES DE ARTE GRAMÁTICO EN SU RECIENTE NÚMERO DE ABRIL 2022, N. 11 EN SU NUEVA COLECCIÓN DIGITAL, DEDICA UN HOMENAJE A LA GRAN POETA LUSA SOPHIA DE MELLO. AQUÍ PRESENTAMOS, EN LA PRIMERA ENTREGA, UNA ANTOLOGÍA DE POEMAS DE SOPHIA DE MELLO, SELECCIONADOS POR EL POETA Y PROFESOR PACO CARREÑO, QUIEN LES DEDICA UN COMENTARIO MAGISTRAL QUE PRESENTAREMOS EN UNA SEGUNDA ENTREGA PRÓXIMA.

Puedes leer esta segunda entrega (el estudio de la poesía de Sophia de Mello por el profesor Paco Carreño en: https://diariopoliticoyliterario.blogspot.com/2022/05/sophia-de-mello-breyner-andresen-la.html



POEMAS DE SOPHIA DE MELLO BREYNER

(Antología de textos comentados por Paco Carreño)

 

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN nació en Oporto, 6 de noviembre de 1919 y murió en Lisboa, 2 de julio de 2004. Fue distinguida con el “Prémio Camões” en 1999, como una de las poetas más importantes en lengua portuguesa del siglo XX.  Fue la primera mujer portuguesa en recibir ese premio que supone el reconocimiento literario mayor de la literatura en lengua lusa. En 2003, poco antes de su muerte, obtuvo también, en España, el Premio Reina Sofía de Poesía Iberoamericana. Autora de libros de poesía y de cuentos, teatro, ensayo y narrativa infantil. Su poesía se recoge en los tres volúmenes de su Obra Poética editada en Lisboa (Ed. Caminho, Lisboa, 1990-2003). Mencionamos sus libros traducidos al español:  

Poemas Sophia de Mello Breyner Andresen. Angria Ediciones. Caracas 1998. Traducción de Nidia Hernández. 

 . Antología griega (Ediciones Miguel Gómez, 1999). 

. Antología poética (Huerga y Fierro, 2000). 

En la desnudez de la luz (Antología, Ed. Universidad de Salamanca, 2003) 

. Nocturno mediodía (Antología, traducción de Ángel Campos Pámpano, Galaxia Gutenberg-Círculo de Lectores, 2005).  

.Tiempo terrestre (Antología, selección y traducción de Paula Abramo, Fondo de Cultura Económica, Bogotá, 2018).

 

 

 

                   INGRINA

 

O grito da cigarra ergue a tarde a seu cimo e o perfume do orégão invade a felicidade. Perdi a minha memória da morte da lacuna da perca do desastre. A omnipotência do sol rege a minha vida enquanto me recomeço em cada coisa. Por isso trouxe comigo o lírio da pequena praia. Ali se erguia intacta a coluna do primeiro dia - e vi o mar reflectido no seu primeiro espelho. Ingrina.

É esse o tempo a que regresso no perfume do orégão, no grito da cigarra, na omnipotência do sol. Os meus passos escutam o chão enquanto a alegria do encontro me desaltera e sacia. O meu reino é meu como um vestido que me serve. E sobre a areia sobre a cal e sobre a pedra escrevo: nesta manhã eu recomeço o mundo

 

 

                  MUNDO NOMEADO OU DESCOBERTA DAS ILHAS

 

Iam de cabo em cabo nomeando

Baías promontorios enseadas;

Encostas y praias surgiam

Como sendo chamadas

 

E as coisas mergulhadas no sem-nome

Da sua própia ausência regresadas

Uma por uma ao seu nome respondiam

Como sendo criadas

 


 

                   ÍTACA

 

Quando as luzes da noite se reflectirem imóveis nas águas verdes

de Brindisi

Deixarás o cais confuso onde se agitam palavras passos remos

 e guindastes

A alegria estará em ti acesa como um fruto

Irás à proa entre os negrumes da noite

Sem nenhum vento sem nenhuma brisa só um sussurrar de búzio

 no silêncio

 

Mas pelo súbito balanço pressentirás os cabos

Quando o barco rolar na escuridão fechada

Estarás perdida no interior da noite no respirar do mar

Porque esta é a vigília de um segundo nascimento

 

O sol rente ao mar te acordará no intenso azul

Subirás devagar como os ressuscitados

Terás recuperado o teu selo a tua sabedoria inicial

Emergirás confirmada e reunida

Espantada e jovem como as estátuas arcaicas

Com os gestos enrolados ainda nas dobras do teu manto

 


 

 

DESCOBRIMENTO

 

Um oceano de músculos verdes

Un ídolo de muitos braços como un polvo

Caos incorruptível que irrompe

E tumulto ordenado

Bailarino contorcido

Em redor dos navios esticados

 

Atravesamos fileiras de cavalos

Que sacudiam suas crinas nos alísios

 

O mar tornou-se de repente muito novo e muito antigo

Para mostrar as praias

E um povo

De homens recém-criados ainda cor de barro

Ainda nus ainda deslumbrados



 

POEMA

 

A minha vida é o mar o Abril a rua

O meu interior é uma atenção voltada para fora

O meu viver escuta

A frase que de coisa em coisa silabada

Grava no espaço e no tempo a sua escrita

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro

Sabendo que o real o mostrará

 

Não tenho explicações

Olho e confronto

E por método é nu meu pensamento

 

A terra o sol o vento o mar

São minha biografia e são meu rosto

 

Por isso não me peçam cartão de identidade

Pois nenhum outro senão o mundo tenho

Não me peçam opiniões nem entrevistas

Não me perguntem datas nem moradas

De tudo quanto vejo me acrescento

E a hora da minha morte aflora lentamente

Cada dia preparada

 

 


 

MANHA DE OUTONO NUM PALÁCIO DE SINTRA

 

Um brilho de azulejo e de folhagem

Povoa o palácio que um jovem rei trocou

Pela morte frontal no descampado

 

Ele não quis ouvir o alaúde dos dias

Seu ombro sacudiu a frescura das salas

Sua mão rejeitou o sussurro das águas

 

Mas o pequeno palácio é nítido -  sem nenhum fantasma -

Sua sombra é clara como a sombra de um palmar

No seu pátio canta um alvoroço de início

Em suas águas brilha a juventude do tempo

 

 

 


INÍCIAL

 

O mar azul e branco e as luzidias

Pedras: O arfado espaço

Onde o que está lavado se relava

Para o rito do espanto e do começo

Onde sou a mim mesma devolvida

Em sal espuma e concha regressada

À praia inicial da minha vida.

 

     Sophia de Mello

 

ÁGORA DIGITAL/ MAYO 2022/ CO-LECCIÓN ÁGORA. HOMENAJE A SOPHIA DE MELLO I

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